O Cruzeiro que conquistou o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro em 2003 foi comandado pelo talento do camisa 10 Alex. Porém, jogadores menos populares tiveram papéis importantes na melhor temporada da história do clube. É o caso que Augusto Recifeconhecido por ser o “carrapato” do time com seu estilo de jogo que envolve muita marcação e desarmes.
O camisa 5 completou 20 anos em 2003. Mesmo assim, foi o terceiro atleta mais utilizado pelo técnico Vanderlei Luxemburgo – atuou em 63 dos 73 jogos da Raposa. A principal missão do Recife era tirar a bola dos adversários e entregá-la em boas condições para Alex, Zinho, Maurinho, Leandro, Aristizábal, Deivid, Mota, Márcio Nobre e outros com maior participação no setor ofensivo.
Em uma entrevista em podcast Bochechaso repórter e apresentador do TV Alterosa, Laura LopesRecife contou como chegou ao Cruzeiro. A descoberta ocorreu em um campeonato na cidade de Itapeva, no interior de São Paulo. O pernambucano Joaquim Nabuco jogou pelo Clube Atlético Juventus, do bairro da Mooca, Zona Leste da capital paulista.
“Neste torneio, a Euro Export fez parceria com o Cruzeiro, que enviou Ney Franco, técnico da categoria juvenil, e Emerson Ávila, da categoria infantil, para conhecer alguns jogadores da Juventus. E aconteceu que Ney gostou do meu futebol. Irineu, Luisão, Zé Roberto, Alê e outros também compareceram. Eles eram todos da Juventus. Foi quando desembarquei em BH, em março de 2000. Assinei meu primeiro contrato profissional, no valor de R$ 375. Foi um contrato de empréstimo.”
Augusto Recife, ex-meio-campista do Cruzeiro
Da quase demissão à propriedade na base
O começo, porém, foi difícil. Pouco utilizado e às vezes nem relacionado, o Recife quase deixou o Cruzeiro antes de subir ao profissional. Ney Franco sugeriu que ele voltasse à Juventus, já que as chances nas camadas jovens da Raposa eram mínimas.
“Ney Franco veio até mim e disse: ‘Recife, vou te devolver para o Juventus’. Lá você terá mais oportunidades, aqui você não as terá. Na época eu murchei. — Não, Ney, não faça isso. Deixe-me treinar, quem sabe um dia’. Ele respondeu: ‘não, eu devolvo para você’. Passei o fim de semana me sentindo muito triste.”
Augusto Recife
A insistência do meio-campista em permanecer em Belo Horizonte surtiu efeito. Após dias de incerteza, um treinador de jovens lhe disse que permaneceria no clube. E uma oportunidade inesperada surgiu com urgência.
“A equipe júnior perdeu meio-campistas e atacantes devido a lesões. Aí Maicon e Luisão mandaram ligar para Recife e Jussiê. Alexandre Barroso, que era técnico da equipe de juniores, me nomeou titular. E estive bem, assim como o Jussiê, que se destacou no jogo”, lembrou Augusto, acrescentando que esteve definitivamente no sub-20.
Promoção para a equipe principal
A promoção do jogador ao time principal ocorreu de forma semelhante ao ocorrido na base. O elenco repleto de estrelas – Rincón, Edmundo, Alex, Sorín e outros – estava mal no Brasileirão, o que levou o então técnico Ivo Wortmann a convocar Recife e outros jovens da academia para o grupo profissional.
Augusto ficou no banco na vitória por 1 a 0 sobre o Sport, na Ilha do Retiro, no dia 26 de agosto de 2001, pelo Campeonato Brasileiro. No duelo seguinte, no dia 30 de agosto, foi escalado entre os 11 titulares no empate em 1 a 1 contra o Bahia, no Independência, em meio aos desfalques de Ricardinho e Rincón.
A passagem de Wortmann no Cruzeiro durou até 19 de setembro, e a diretoria procurou Marco Aurélio, técnico campeão da Copa do Brasil de 2000. Inicialmente, o Recife não seria utilizado, mas o treinador de goleiros Flávio Tenius insistiu para que o novo comandante assistisse ao VT de um jogo de volante.
“Flávio me acompanhou muito. E disse ao Marco Aurélio: ‘Tem um menino que jogou conosco aqui como profissional, foi muito bem contra o Bahia. Assista à fita do jogo. Você vai gostar do garoto. Marco Aurélio disse que não iria assistir, mas o Flávio insistiu, e o treinador viu e gostou.”
Marco Aurélio jogou o Recife contra o Corinthians, no dia 10 de outubro, pelo Brasileirão. A obrigação do meio-campista era dificultar as ações do centroavante Deivid, que jogaria no Cruzeiro em 2003. A estratégia deu certo, já que a Raposa venceu o duelo por 1 a 0, no Mineirão, com gol do zagueiro João Carlos. E Augusto recebeu o prêmio de melhor da área oferecido pela Rádio Itatiaia.
Carreira Augusto Recife
No Cruzeiro, Augusto Recife conquistou sete títulos: Campeonato Brasileiro (2003), Copa do Brasil (2003), Copa Sul-Minas (2002), Campeonato Mineiro (2003, 2004 e 2006) e Supercampeonato Mineiro (2002).
Em 199 partidas – 191 oficiais e oito amistosos – o meio-campista marcou três gols. A mais emblemática foi na vitória por 2 a 1 sobre o Goiás, no Mineirão, pelo jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil de 2003.
Aos 45 minutos do segundo tempo, Recife roubou a bola no campo de ataque, deslocou para o pé direito e bateu de fora da área, cobrindo o goleiro Harley. Ao comentar o lance, ele afirmou ter feito um gol “à la Alex”.
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