Gaza: Ataques em escolas usadas de abrigo reforça violação de “regras da guerra”

Esta segunda-feira marca o 75º aniversário das Convenções de Genebra, criadas para proteger os civis em tempos de guerra.

O Comissário Geral da Agência de Assistência e Obras das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos, Unrwa, disse que ao longo dos últimos 10 meses estas “regras de guerra” foram “descaradamente violadas, dia após dia, em Gaza”.

“Mais um dia de horror em Gaza”

Num comentário feito esta segunda-feira nas redes sociais, Philippe Lazzarini afirmou que tanto as forças israelitas como os grupos armados palestinianos, incluindo o Hamas, estão a desrespeitar o conjunto de regras universais e consensuais criadas para limitar o impacto devastador das guerras.

Por volta das 4h30 de sábado, durante um momento de oração, uma mesquita dentro da Escola Al Tabaeen foi atacada pelas Forças de Defesa de Israel “pelo menos três vezes”, segundo o Escritório de Direitos Humanos da ONU no Território Palestino Ocupado.

Num comunicado, afirmou que os ataques foram “conduzidos com aparente desrespeito pela elevada taxa de mortes civis”. Um relatório inicial mostrou que os ataques mataram pelo menos 93 palestinianos, incluindo 11 crianças e seis mulheres.

Lazzarini descreveu o episódio como “mais um dia de horror em Gaza”, com outro ataque a uma escola e relatos de dezenas de palestinos mortos, incluindo mulheres, crianças e idosos.

Acrescentou que as partes em conflito não devem utilizar escolas e outras instalações civis para fins militares ou de combate e devem, em todos os momentos, proteger os civis e as infra-estruturas civis.

Aumento da frequência de ataques em abrigos

O chefe da Unrwa disse que “não podemos permitir que o insuportável se torne uma nova norma”, pois quanto mais recorrente se torna, “mais perdemos a nossa humanidade colectiva”.

O Gabinete dos Direitos Humanos da ONU condenou a frequência crescente de ataques por parte das Forças de Defesa de Israel a escolas, onde milhares de palestinianos deslocados à força procuraram abrigo.

A agência disse que estes ataques sistemáticos às escolas ocorreram no contexto do deslocamento da maioria da população de Gaza, enquanto o exército israelita continua a detonar edifícios residenciais e a restringir a entrada e distribuição de assistência humanitária.

Este é pelo menos o 21º ataque a escolas registado desde 4 de julho. Estes episódios resultaram em pelo menos 274 vítimas mortais.

Quase 90% da Faixa de Gaza sob ordem de evacuação

“Israel, como potência ocupante, é obrigado a fornecer à população que deslocou à força necessidades humanitárias básicas, incluindo abrigo seguro”, afirmou o escritório de direitos humanos da ONU.

O Coordenador Especial da ONU para o processo de paz no Médio Oriente, Tor Wennesland, apelou a todas as partes no conflito em Gaza para que priorizem a protecção dos civis e concluam um acordo sobre um cessar-fogo e a libertação de reféns.

“Todos os dias, os civis continuam a suportar o peso deste conflito no meio de horror, deslocamento e sofrimento sem fim”, disse ele.

Quase 90% da Faixa de Gaza foi colocada sob ordens de evacuação ou designada como zona proibida pelos militares israelitas.

Desafio para campanha de vacinação

Segundo a Unrwa, isto ocorre no contexto da necessidade de uma campanha de vacinação contra a poliomielite rápida e eficaz. A agência está trabalhando com a Organização Mundial da Saúde e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, para organizar uma campanha nas próximas semanas.

A expectativa das agências da ONU é utilizar as poucas unidades móveis de saúde e clínicas para vacinar mais de 600 mil crianças com menos de 10 anos de idade. A porta-voz da Unrwa, Louise Wateridge, disse que era “incrivelmente difícil” planear esta intervenção sob condições de deslocamento constante em Gaza.

Ela insistiu num apelo a um cessar-fogo que permitiria aos intervenientes humanitários levar a cabo esta acção de emergência.