O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse estar “chocado” com as palavras do Ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, sobre a situação de fome em Gaza.
De acordo com agências de notícias, o alto funcionário israelita causou indignação internacional quando declarou que “ninguém no mundo nos permitirá fazer passar fome 2 milhões de pessoas, mesmo que possa ser justificado e moral libertar os reféns”.
Crime de guerra
Turk condenou estas palavras nos termos mais veementes, dizendo que incitam ao ódio contra civis inocentes.
Numa mensagem entregue pelo porta-voz dos Direitos Humanos, Jeremy Laurence, disse que “a fome de civis como método de guerra é um crime de guerra”, bem como a “punição colectiva do povo palestiniano”.
Laurance acrescentou que esta declaração direta e pública corre o risco de incitar outros crimes hediondos e apelou ao fim imediato deste tipo de comentários. O porta-voz sublinhou que declarações desta natureza devem ser investigadas e, caso sejam consideradas crimes, os responsáveis devem ser processados e punidos.
Êxodo e desesperança
A especialista sênior em comunicações da Agência de Assistência e Obras da ONU para Refugiados da Palestina, Unrwa, Louise Wateridge, forneceu na sexta-feira uma atualização sobre a situação das pessoas forçadas a fugir.
Ela disse que os efeitos das últimas ordens de evacuação sobre Khan Younis são visíveis. Esta quinta-feira, centenas de famílias foram vistas a fugir com cada vez menos pertences, a maioria delas fazendo o êxodo a pé por uma estrada cheia de poeira.
O representante da Unrwa descreveu que a maioria das crianças carregava mochilas nas costas e na frente do corpo, algumas delas tinham menos de 10 anos e outras faziam a viagem sozinhas, sem família por perto.
Louise Wateridge destacou que esta cena aconteceu num calor superior a 30°C e que ela não viu quase ninguém bebendo ou tendo acesso a água. Segundo ela, as expressões e atitudes das pessoas em todos os momentos refletiram “a devastação, o medo, a ansiedade e a desesperança que enfrentam”.
O especialista em comunicação destacou que estas “cenas horríveis” revelam o drama destas pessoas obrigadas a fugir “sem absolutamente nenhuma segurança e sem ter para onde ir”. Ela disse que é “simplesmente trágico” que isso esteja acontecendo repetidamente.
Expectativas para a campanha de vacinação
O representante da Unrwa disse que a agência está a trabalhar com a Organização Mundial de Saúde, OMS, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, bem como com o Ministério da Saúde local para uma campanha de vacinação contra a poliomielite.
Ela afirmou que a iniciativa seria muito mais fácil e rápida com um cessar-fogo, que tem sido exigido há vários meses e que irá “beneficiar profundamente” todos os tipos de resposta humanitária em Gaza.
O especialista declarou que a Unrwa está “profundamente comprometida” em liderar a vacinação, devido à sua vasta presença e experiência no enclave. No entanto, ela disse que as ordens de evacuação contínuas tornarão a imunização muito difícil.
Segundo Louise Wateridge, a campanha de vacinação deverá começar dentro de algumas semanas, ainda em agosto. Ela insistiu na importância de um cessar-fogo ou de uma pausa humanitária durante este período.
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