O ginásio parecia um estádio de futebol. As bandeiras do Brasil tremulavam no final do carnaval. Que festa e que resultado histórico. Os brasileiros venceram os Estados Unidos por 85 a 81. Lindo e inesquecível. Mas não foi em Paris hoje. A derrota para o Dream Team de LeBron James, Stephen Curry, Kevin Durant e companhia. por 122 a 87, num placar elástico e esperado, nem deve ser lamentado. É o que é. Ajuda a puxar o fio da memória, num exercício necessário para a história do esporte. Essa vitória foi no dia 25 de maio de 1963, no Maracanãzinho. Deu ao time verde e amarelo seu segundo campeonato mundial. A primeira conquista foi em 1959, no Chile, mas depois de uma grande confusão durante a Guerra Fria. A União Soviética e a Bulgária foram punidas por se recusarem a enfrentar Formosa. A decisão favoreceu o Brasil, que havia perdido para os soviéticos nas eliminatórias e na fase final. Ao derrotar Chile, Porto Rico, Formosa, Bulgária e Estados Unidos – sim, os Estados Unidos –, a Canarinho levantou a taça, mas foi estranho.
E então, aquele troféu de 1963 parecia não deixar dúvidas. O treinador era Kanela. Em quadra, nomes como Amaury Pasos, Vlamir Marques, Ubiratan, Rosa Branca, Marquinhos e Menon. Timaço. Jô Soares, sobrinho de Kanela, uma vez lembrou daquela noite. “Foi uma reação parecida com a do primeiro campeonato mundial de futebol, em 1958, só que mais concentrada no Rio de Janeiro, mas a cidade enlouqueceu. Um momento muito marcante foi a vitória sobre aquele time americano, que ninguém acreditava. Foi uma coisa quente, pública, porque é em uma academia, então o volume de reação é maior. E os jogadores agarrando meu tio Kanela, uma loucura.” A estratégia de Kanela tirou o time da NBA do rumo, apostando na velocidade de transição e passando a bola para Amaury, um dos maiores jogadores de todos os tempos, pouco reconhecido. Os Estados Unidos tinham em quadra dois jogadores que seriam listados entre os melhores da NBA: Willis Reed, pivô do New York Knicks há 15 anos, e Lucius Jackson, também pivô, do Milwaukee Bucks. Com 110 pontos conquistados, Amaury foi o artilheiro da competição. Também fez parte da equipe do torneio, ao lado do brasileiro Wlamir Marques, do soviético Aleksander Petrov, do americano Don Kojis e do francês Maxime Dorigo. Essa geração brasileira, e a que a precedeu, foi três vezes medalhista de bronze nas Olimpíadas: 1948, 1960 e 1964.
A aventura contra os Estados Unidos não terminaria aí. Em 1987, a equipe de Oscar, Marcel e cia. venceria os Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, com vitória sobre o time da casa por 120 a 115. Foi a primeira vez que a seleção masculina dos EUA foi derrotada em casa. Mas atenção: o time americano era formado por estrelas universitárias. Oscar marcou 46 pontos e Marcel, 31. Nesta terça-feira, 6 de agosto, a jornada foi diferente, mas não importa. A festa de Davi contra Golias foi linda. Os americanos nunca esquecerão as derrotas de 1959, 1963 e 1987 – o resultado de hoje, no entanto, é uma simples página no caminho para o ouro.
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