Entre lágrimas e risos, a trajetória de Diego Hipólito, 38 anos, nas Olimpíadas é marcada por pelo menos três grandes momentos de sentimentos distintos. Em Pequim 2008, depois de uma queda incrédula de bunda, seguida de outra queda de rosto em Londres 2012. E, posteriormente, no Rio 2016, o êxtase da prata no chão. Mantendo as devidas proporções de emoções sob os holofotes, Diego nunca escondeu a euforia que exacerbava em suas apresentações. “Nunca deixei de fazer absolutamente tudo o que queria, inclusive beber e sair, durante o período de treinamento. Sempre estive muito vivo. (…) O que há de mais diferente em mim dos Jogos Olímpicos é o meu rosto, porque dei uma repaginada nele. Um botox light”, ri, convidado do programa semanal da coluna GENTE no Youtube e streaming Ver+.
Depois de anunciar em 2019 sua aposentadoria do esporte que o promoveu, no mesmo ano em que falou pela primeira vez sobre sua homossexualidade, assunto que ainda é visto como um certo tabu entre atletas de diversas modalidades, Diego reforçou a referência em torno de seu nome. Logo foi chamado para comentar competições de ginástica na TV Globo – o que fará novamente nos Jogos Paris 2024 – além de se tornar mestre de cerimônias do circo Abracadabra, onde realiza suas hipnotizantes acrobacias no ar. “Não sou ex-ginasta, serei sempre ginasta, para sempre”, diz, com seu sorriso largo e marcante.
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Em clima de Olimpíada, o primeiro ginasta masculino da América do Sul a conquistar uma medalha em campeonatos mundiais da modalidade, nesta entrevista, fala dos bastidores das festas privadas comuns nas vilas olímpicas, como a saúde mental pode afetar um desempenho de alto rendimento concorrente e explica por que o que Rebeca Andrade é o grande nome a ser batido até pelo americano Simone Biles.
REFERÊNCIA PARA NOVAS GERAÇÕES. “Se eu dissesse anos atrás, quando estava competindo, que algum tempo depois a ginástica se tornaria o principal esporte olímpico a conquistar medalhas para o Brasil, seria um sonho. Isto é muito gratificante. (…) Vejo o carinho nas crianças que citam nossas ginastas como referência, a Rebeca tem uma completude tão grande quando o assunto é competição, que chega a intimidar até a Simone Biles. É muito fino, mostra muito valor.”
SAÚDE MENTAL. “Você não pode romantizar isso como antes. O que a Simone teve nos Jogos Olímpicos é grave, ela se perdeu psicologicamente. Um atleta se perder no meio de um esporte pode ser grave, a ponto de ficar tetraplégico e morrer… Ao perceber que sua saúde física e mental estava com problemas, ela parou e saiu do local. Isso foi importante para que a questão da saúde mental pudesse ser melhor abordada com seriedade por todos. A primeira vez que precisei de ajuda psicológica foi depois de uma queda em Londres em 2012, parecia que tinha matado alguém. Foi muito pior que Pequim 2008. Um avião não cai por um único erro, são vários. O atleta também cai por vários motivos.”
SEXUALIDADE EXPOSTA. “Conversar abre possibilidades para que outras pessoas se conheçam. Há pessoas que se matam. Isso é sério. Nunca lidei com isso como parte da agenda da minha vida. Quero que as outras pessoas também se sintam normais, não coloco mais tabus em mim. você tem que ser o que quiser, ser feliz. Quando Lais Souza ficou tetraplégica, as pessoas me ligaram para falar sobre sua sexualidade. Veja quão grande é o tabu. Fui vendedor ambulante, passei fome, quando é que imaginei que me tornaria exemplo para alguém através do esporte? Encorajo todos a buscarem sua felicidade.”
CAMA DE CARTÃO CONTRA SEXO. “Quando uma pessoa quer fazer alguma coisa, ela faz. Não existe cama de papelão que aguente mais de dez mil atletas em uma vila olímpica. São atletas, pessoas vivas… Quando o (Arthur) Nory competia comigo no Rio 2016, ele estava sempre dando bronca, queria ir a todos os lugares, ver todos os atletas. Eu não, eu estava muito fraco, tinha 30 anos, queria ficar quieto e descansar. Cada um lida com a Vila Olímpica à sua maneira, é um lugar muito tentador. A cama de papelão vai ficar só amassada, vão fazer um origami com ela (risos)”.
VIDA NO CIRCO. “Estou no circo Abracadabra, em São José dos Campos. Também sou artista circense, estou fazendo acrobacias no mesmo nível de dificuldade de oito anos atrás, quando ainda competia. É uma oportunidade de me ver fazendo o que nunca deixei de fazer. Não sou uma pessoa séria como dizem, sou normal.”
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