Apenas 7% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, avançaram satisfatoriamente no Brasil. Os dados são do Relatório Luz, publicado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 durante o Fórum Político de Alto Nível, que decorre até esta quinta-feira na sede da ONU, em Nova Iorque.
ONU News conversou com a co-facilitadora do grupo, Alessandra Nilo. Ela avaliou que o lento progresso das metas de desenvolvimento no país está enraizado na gestão da pandemia da Covid-19 e na falta de priorização das políticas sociais e climáticas.
Para frente e para trás
“Embora 58 das 168 metas avaliadas tenham avançado de alguma forma, esse avanço não significa que estejamos em condições de conseguir atingir essa meta em 2030, porque quando avançamos, na verdade, muitas vezes voltamos ao lugar onde estávamos diante desse processo de tanto retrocesso que estamos vivendo.”
Segundo o relatório, as 58 metas que tiveram “progresso insuficiente” representam 34,5% do total. Para Alessandra Nilo, muitos foram avaliados positivamente porque saíram de uma situação de “estagnação ou retrocesso”. Ela cita o caso da reestruturação de ministérios e da participação social.
“O que vimos no Brasil, por exemplo, foi uma reestruturação da política de participação social, foi a reorganização da estrutura dos ministérios. Por exemplo, o Ministério de Políticas para as Mulheres, o Ministério da Saúde, o Ministério que trata do clima e meio ambiente, o ministério que trabalha com todos os sistemas de seguridade social e o ministério mesmo dos direitos humanos, que tem trabalhado a questão do racismo estrutural. Agora, esta reestruturação, que ainda não é acompanhada de orçamentos, proporciona a dotação orçamental necessária para concretizar este conjunto de políticas e chegar à maioria da população.”
Quadro fiscal
Segundo o especialista, a questão fiscal é um obstáculo para a implementação de políticas. Ela avalia que o quadro fiscal no Brasil não permite espaço para alocação orçamentária onde ela é realmente necessária. Alessandra Nilo avaliou também que o atual Congresso Nacional impede o progresso e que a luta pelo poder faz com que “os direitos do povo não sejam alcançados e cumpridos”.
Alessandra Nilo avalia que o Brasil deve continuar comprometido com três frentes críticas: fome, saúde e governança. Para ela, sem garantir a segurança alimentar, outros pilares básicos do desenvolvimento, como a educação, ficam comprometidos.
Ela também defende que é preciso haver um esforço para “transformar a economia”. Segundo Alessandra, o modelo econômico atual não entrega serviços de qualidade à população, refletindo outras questões importantes.
Os dados coletados pelo Grupo de Trabalho facilitado por Alessandra Nilo foram utilizados pelo governo brasileiro na apresentação da revisão voluntária do progresso dos ODS.
Ela afirma que o diálogo entre as autoridades brasileiras e a sociedade civil, antes da compilação dos dados, indica um avanço nas relações “democráticas e republicanas”, já que os lados têm avaliações diferentes, mas trabalham em parceria.
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