SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil-PR) tornou-se réu nesta terça-feira (6/4) em uma ação por suposta calúnia contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, em mais uma derrota do parlamentar desde que deixou a bancada.
Moro, que disse que nunca entraria na política, ganhou destaque e fama nacional com a Operação Lava Jato, quando era juiz federal, mas deixou o cargo em novembro de 2018 para se tornar ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), com quem teve conflitos durante e após o seu mandato.
Uma série de decisões de Moro acabaram revogadas em meio à erosão da Lava Jato, alimentada pela chamada Vaza Jato, que divulgou mensagens entre o ex-juiz e o então procurador Deltan Dallagnol, indicando interferência nas investigações do Ministério Público.
Fora do governo Bolsonaro, Moro tentou concorrer à Presidência e ao Senado em São Paulo em 2022, ambas frustradas. Foi eleito senador pelo Paraná, mas foi alvo de uma ação judicial pedindo seu impeachment. Ele conquistou uma vitória este ano ao ser absolvido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas ficou isolado politicamente durante o processo.
Relembre alguns percalços e contratempos de Moro após deixar o banco:
Ministério e conflitos com Bolsonaro
Ao deixar o Judiciário, Moro foi convidado por Bolsonaro para ser ministro, afirmando que aceitou porque estava “cansado de ser dado como certo”. No cargo, buscou liderar uma agenda anticorrupção, além de aprovar um “pacote anticrime”, consolidando prisões de segunda instância, por exemplo.
Apesar disso, teve uma série de atritos com o então presidente, que inicialmente lhe havia prometido total autonomia. Bolsonaro desaprovou a nomeação de Ilona Szabó, especialista em segurança pública, além de fazer declarações públicas afirmando que não havia 100% de confiança apesar de apoiar Moro.
Também foi derrotado no caso do juiz de garantias, instituto ao qual foi contra e que Bolsonaro sancionou, na perda do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para o Ministério da Economia e nos vetos do projeto anticrime aprovado pelo Congresso Nacional, diferente do proposto pelo ex-juiz.
Ele foi afastado do cargo em 2021 após a demissão do então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Moro disse na época que Bolsonaro queria interferir na corporação para ter acesso aos relatórios de inteligência do órgão.
Reveses da Lava Jato no STF
Mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil e divulgadas por diversos veículos revelam que Moro, como juiz da Lava Jato, assessorou e colaborou com o Ministério Público. Por lei, um juiz deve permanecer imparcial em relação às partes num processo.
Os diálogos tensionaram Moro e a operação e foram citados em ações para anular processos, provas e decisões tomadas por juízes da Lava Jato, incluindo Moro, e, mais recentemente, para reverter o uso de provas pela construtora Odebrecht.
Parcialidade nos casos Lula
O STF decidiu em 2021 que Moro foi parcial na ação em que Lula (PT) foi condenado por supostamente receber um triplex no Guarujá (litoral de São Paulo) como forma de propina.
O tribunal também decidiu anular todas as condenações do ex-presidente e restaurar seus direitos políticos, numa derrota histórica para a Lava Jato e o ex-juiz, sob o argumento de que as ações contra o petista não eram apenas sobre a Petrobras e que a Justiça Federal de Curitiba tinha competência apenas para processos vinculados diretamente à Justiça estadual.
Aplicativos malsucedidos
Após deixar o governo, Moro ingressou no Podemos em novembro de 2021, defendendo a Lava Jato e atacando tanto Lula quanto Bolsonaro. Ele adotou um tom presidencialista ao anunciar sua filiação, e iniciou uma pré-candidatura ao cargo.
Pressionado pela sigla a desistir da eleição para o Palácio do Planalto, migrou para o União Brasil, que rejeitou a candidatura. O ex-juiz então tentou concorrer ao Senado paulista, mas o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo o impediu de alterar o título de eleitor, o que o proibiria de concorrer a cargos no estado.
Candidatou-se então ao cargo de senador pelo Paraná, onde construiu toda a carreira, e foi eleito, desbancando o então ocupante do cargo e seu padrinho político, Álvaro Dias (Podemos).
Após o rompimento com Bolsonaro ao deixar o governo, Moro voltou a se aproximar do então presidente nas eleições de 2022, apoiando-o no segundo turno contra Lula.
Processo de cassação e isolamento político
Moro foi alvo de ações eleitorais do PT e do PL com pedido de seu impeachment. As legendas alegavam abuso de poder econômico durante a campanha pré-eleitoral do senador, entre 2021 e 2022.
Os partidos sustentaram que os gastos pré-campanha do ex-juiz, inicialmente voltados para a disputa pelo Planalto, tornaram-se “desproporcionais” e “suprimiram as chances de outros concorrentes” ao Senado paranaense.
Em abril, por 5 votos a 2, o TRE paranaense se posicionou contra a condenação. PT e PL recorreram, e o TSE manteve a decisão do Tribunal Regional Eleitoral por 7 a 0. Apesar disso, enquanto a ação tramitava, ela ficou isolada politicamente dentro e fora do Senado.
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