Socorro: perdidos no Palácio de Versalhes

Socorro: perdidos no Palácio de Versalhes



No portão de Versalhes, há uma estátua do monarca que ordenou a construção do palácio, Luís

A epopéia sobre a gigantesca propriedade (e agora temos uma boa ideia de quão grande ela é) começou com uma decisão que parecia razoável. Não utilize o transporte destinado à imprensa, pois o traslado com três trocas de ônibus, segundo o aplicativo, exigiria uma espera de uma hora e meia entre as estações, enquanto uma viagem de Uber levaria 25 minutos, sem escalas. Éramos, o fotógrafo Richard Callis e eu, dois inocentes.

Chegando lá, uma mulher disse que a entrada certa era a número 4, a mais de um quilômetro, seguindo pelo Boulevard da Rainha e colocando o pé na lama, literalmente, naquele dia de chuva implacável. Sem sinal, nada, conseguimos chegar na frente do gol, para assistir à prova de adestramento, esporte em que homem e animal devem estar elegantemente harmoniosos.

Mas então a realidade começou a impor-se, implacavelmente. Revista daqui, revista daí, muita bufada, o responsável decide: “Não pode entrar por aqui, tem câmera, tem computador, e a imprensa fica no portão 2”. Essa informação abriu um capítulo totalmente novo.

VOCÊ É REI OU RAINHA?

Com a lama infiltrando-se no interior do sapato, começa a saga de encontrar a entrada 2. Diz-se que fica no King’s Boulevard, não no Queen’s Boulevard, à esquerda, ali mesmo. Outro diz que fica à direita, mas longe, inacessível a pé. Um policial que só quer ajudar está flutuando e consulta o mapa. Qualquer coisa. “C’est la France”, diz ele, apesar da bagunça.

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Um desses carrinhos de golfe passa transportando convidados VIP. Imploramos uma carona, precisamos trabalhar. Um voluntário amigável liga para o chefe e depois para o chefe do chefe. Ela quer ajudar, mas precisa de permissão. Resposta positiva. Bastava esperar a carroça, que os franceses chamam de navette.

Ele nunca veio. Depois tivemos que voltar a ser andarilhos, indo em direção à estátua do Rei Sol, quando um voluntário teve pena de nós. Vá pegar um ônibus. E dessa vez ela vem, para nos levar até o tão sonhado portão 2. Um cara que se apresenta como “oi, sou grego” nos conduz. Ufa, vai servir.

PRESENTE DO GREGO

Mas o homem não estava muito consciente das suas circunstâncias. Ele pegou o mapa e, sem perceber, foi se afastando cada vez mais do palácio. E entrou na cidade em um veículo feito para viajar a 10 por hora, logo dentro da propriedade. “Este carrinho não deveria estar aqui. Cometi um erro”, confessa. Enquanto o carro se arrasta, o Waze calcula a viagem de volta ao esplendor de Versalhes em 12 minutos.

Na estrada há um shopping center, um hotel americano, um posto de gasolina – um passeio por uma cidade altamente plebeia, sem nada a ver com o palácio. Surge uma subida e o amigo grego pede ajuda. “Você pode olhar este mapa?” Ele quer desestressar e traz à tona um assunto sobre o futebol brasileiro.

De repente, os portões dourados aparecem no horizonte quase como uma miragem. Então entre e encontre o portão 2, certo? Errado. Outro chefe informa que, a partir de então, não será mais o grego, mas sim ela quem guiará o navio.

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Um detalhe: você só poderia ir até o portão 4, mais próximo, porque o carrinho está sendo solicitado. Vamos esbarrar no mesmo muro de segurança? “Não”, ela jura. Ela decide o caso e vai embora. Mas não foi resolvido.

TERMINOU EM PIZZA

No final, talvez com pena – nessa altura a história dos dois pobres jornalistas já tinha circulado pela propriedade – deixaram-me entrar, mas não o fotógrafo. Uma vez lá dentro, o que sobrou foram filas e mais filas de gente tentando conseguir, pelo amor de Deus, uma pizza. A competição em si acabou.

Tudo o que pude ver foi o palco da corrida, emoldurado pelos famosos jardins e, mais atrás, pela grande propriedade de três Luís de França. Ele tocou rock na caixa.
Depois de muita água da chuva na cabeça, retomamos nossa habitual caminhada até a estação de trem para Paris. Até nos deparamos com um colega japonês, prestes a embarcar no mesmo pesadelo. Ciente do que o esperava, ele se virou e voltou.

Balanço da viagem: 15 quilômetros percorridos e muita lama nos pés.



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